Pescadores fazem pescaria em defesa do Xingu

Ação visa a denunciar os impactos ambientais provocados pela construção da usina de Belo Monte

Pescadores da região do Xingu realizarão, na segunda-feira (14), em Altamira (PA), uma grande pescaria contra o complexo Hidrelétrico Belo Monte.

A ação visa a denunciar os impactos ambientais provocados pela construção da usina e as consequências do empreendimento sobre as populações do Xingu, especialmente pescadores.

A pescaria terá início às 9h, com concentração no Cais de Altamira, em frente ao prédio da Eletronorte. De lá, o grupo seguirá para a pescaria, quando tecerão uma grande rede de pesca representando a união dos povos do Xingu contra Belo Monte. O retorno ao cais está previsto para as 16h, quando haverá uma coletiva de imprensa e a doação do pescado aos moradores da região. A estimativa é de que 300 pescadores participem da ação, que deve capturar de 10 a 13 toneladas de peixe.

A ação conta com o apoio do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Prelazia do Xingu, Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Terra de Direitos, Fundo Dema, Consulta Popular e Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre outros.

A pescaria também marca o Dia Internacional de Luta contra as barragens, pelos rios, pelas águas e pela vida, celebrado em 14 de março.

Consequências

O agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Fábio Barros explica que a data da pescaria foi escolhida por ser o último dia do defeso, período em que o Ibama proíbe a pesca e a comercialização de alguns tipos de peixes em reprodução na região, a fim de preservar as espécies do rio.

Barros ressalta, no entanto, a contradição na postura do Ibama e observa que o órgão ambiental não parece ter a mesma preocupação com a fauna local quando o assunto é a construção da hidrelétrica. “O Ibama proíbe a pescaria nesse período, só que esse mesmo órgão liberou a construção de Belo Monte. Se essa obra for construída, vai acabar com todas as espécies. Que fundamento tem isso?“, questiona.

Os pescadores pedem que a obra não altere o percurso natural do rio Xingu, a fim de que a diversidade do local seja respeitada. Barros lembra que a alteração do nível do rio dificultará a reprodução dos peixes e contribuirá para a extinção das espécies, muitas delas endêmicas (que existem apenas naquela área).

Além dos danos ambientais, Barros destaca que o aumento do nível da água também dificultará a pesca, causando prejuízos econômicos para os trabalhadores. O agente da CPT relata que, como possível solução, o consórcio responsável por Belo Monte têm incentivado a criação de peixes em cativeiro. Os pescadores, porém, encontram dificuldades na prática. “Eles [pescadores] não estão acostumados [com criação em cativeiro] e também não tem recursos para isso. Os pescadores vão desaparecer e só vão sobreviver os piscicultores“, alerta.

O fim da pesca pode acarretar ainda a saída de muitos trabalhadores da região com destino a outras cidades, sem estrutura suficiente para receber os novos moradores. “Outros municípios vão ficar sobrecarregados, como aconteceu com Tucuruí”, afirma.

A estimativa dos movimentos locais é de que dez mil famílias de pescadores sejam atingidas diretamente pela construção da hidrelétrica. A licença parcial da obra, que permite a construção do canteiro de obras da usina, chegou a ser cassada pela Justiça, mas a liminar foi derrubada na última quinta-feira (3).

Os pescadores também reivindicam a imediata paralisação da obra e o respeito ao direito dos povos que vivem no entorno do rio. Eles pedem ainda a criação de um fundo protetor que possibilite a existência natural do rio e ampare as populações que vivem em suas margens.

Depois da atividade haverá uma assembleia dos pescadores, com o objetivo de estruturar um movimento local para articular estratégias de resistência contra Belo Monte. “Eles [pescadores] estão muito a fim de ir à luta”, finaliza Barros.

 

Brasil de Fato

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